domingo, 30 de agosto de 2015

Emanuel Deus Conosco.

JESUS: 100% HOMEM E 100% DEUS



Ao lermos a Bíblia, vemos claramente o fato de que o homem Jesus Cristo é Deus. Muitas são as passagens bíblicas que ressaltam a humanidade e a divindade de Cristo. Apesar disso, não são poucas as confusões em torno das duas naturezas de Cristo, até mesmo entre cristãos sinceros.

É comum, por exemplo, vermos crentes que pensam que Jesus era 50% homem e 50% Deus. Tal assertiva, à primeira vista, para um crente não familiarizado com a doutrina bíblica, pode parecer normal. Mas não é. Afirmar isso é dizer que Jesus era meio homem e meio Deus, quando as Sagradas Escrituras afirmam que Cristo era, ao mesmo tempo, 100% homem e 100% Deus. Isto é, plenamente humano e absolutamente divino.

A plena humanidade de Cristo
Jesus foi concebido por obra e graça do Espírito Santo no útero de Maria, mas seu nascimento foi normal e humano (Mt 1.25; Lc 2.7 e Gl 4.4). Ele desenvolveu-se no ventre de sua mãe como qualquer outro feto saudável, passando por um período de gestação e trabalho de parto normais. Após seu nascimento, desenvolveu-se fisicamente de forma também normal (Lc 2. 40-52 e Hb 5.8), vivendo sadiamente em um lar (Mc 6.1-6).

As Sagradas Escrituras afirmam que Jesus esteve sujeito a todas as limitações físicas próprias da humanidade: teve sede (Jo 19.28), fome (Mt 21.18) e cansaço (Jo 4.6); e sentiu alegria ( Lc 10.21), tristeza (Mt 26.37), amor (Jo 11.5), compaixão (Mt 9.36), surpresa (Lc 7.9) e ira (Mc 3.5)

O teólogo britânico Bruce Milne, em sua obra Conheça a Verdade (ABU Editora, 1987), destaca que a tradução literal das passagens de Lucas 19.41, Mateus 27.46 e João 2.17 aponta para um Jesus que viveu intensamente as emoções humanas. Em Lucas, lê-se no original grego que "tomado de tristeza incontrolável, chorou". Na passagem de Mateus, lê-se que Jesus teve "uma consternação que se assemelha ao desalento". Já no Evangelho de João, o apóstolo descreve o Mestre com uma "indignação violenta que o consome como fogo".

Mas, uma das provas contundentes da humanidade de Jesus é a sua vida religiosa. Mesmo sendo Deus, Jesus, como homem, precisava estudar. Ele precisou aprender sua língua, como qualquer outra criança (Lc 2.52). Jesus estudou as Escrituras e meditou nelas para poder explicá-las (Lc 2.46,52). Agora , quando explicou-as, o fez com uma percepção singular (Mt 22.29; 26.54,56; Lc 4.21; 24.27, 44). Como homem, Jesus, também precisava orar. Todos os milagres que operou não foram por seu poder como Segunda Pessoa da Trindade, mas pelo poder do Espírito Santo (Mt 12.28; Lc 4.18 e At 10.38). Para isso, Jesus orava constantemente, e algumas vezes a noite inteira (Lc 6.12).

As tentações que sofreu são outra prova eloquente de sua humanidade. Ele foi "tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado" (Hb 4.15). Mas alguém pode dizer: "Será que essas tentações foram mesmo tentações para Ele, uma vez que Jesus não nasceu com natureza pecaminosa?" O fato de que as tentações que Cristo sofreu não terem contado com apoio interno, com uma natureza pecaminosa lutando dentro Dele a favor da tentação, como ocorre conosco quando somos tentados, não significa que Jesus não sofreu pressões quando foi tentado. Lembremos de Adão antes da Queda. Ele é um caso de natureza humana sem pecado, mas sujeita a uma tentação real (Gn 3). Além disso, o "filtro" da proteção divina na hora da tentação não estava sobre Jesus. Como assim?

1 Coríntios 10.13 diz que Deus faz com que nunca sejamos tentados "além das nossas forças". Como parafraseia Bruce Milne, "a tentação que encontramos é filtrada através da mão protetora de Deus". Acredita-se, porém, que, no caso de Jesus, esse "filtro" foi removido. Não é à toa que Cristo chegou a suar sangue em meio à tensão para fazer a vontade do Pai ( Lc 22.44). Assim, "Jesus não participou do pecado original e permaneceu sem pecado durante toda a sua vida, mas como verdadeiro homem, Ele suportou o peso e o poder da tentação a um ponto que jamais iremos experimentar", conclui Milne.

A plena divindade de Cristo
Há um profusão de textos que ressaltam a divindade de Jesus (Rm 9.5; Hb 1.8; Jo 1.1-3; 1.18; 20.28; At 20.28; Tt 2.13 e 2 Pd 1.1). Essas referências que acabei de citar são apenas as mais diretas. Existem outras passagens que, mesmo não sendo tão diretas, afirmam a divindade de Cristo. Por exemplo, aquelas que comparam a glória de Jesus com a glória do próprio Deus (1 Co 2.8; 2 Co 4.4; Hb 1.3; Tg 2.1 e Jo 17.5). Em João 12.41, a glória de Deus em Isaías 6 é a manifestação da glória de Jesus.

Em outras passagens, a Jesus são dirigidas orações e Ele recebe adoração (Ap 5.13; 7.10; 22.20; At 7.59; 9.13 e 1 Co 16.22). No original grego, o mesmo vocábulo usado para se referir à adoração que é devida somente à Deus em Mateus 4.10 (proskyneia) é utilizado para descrever a reação das pessoas em relação a Jesus (Mt 2.2,8,11;14.33; Mc 5.6; Jo 9.38). os discípulos o adoraram (Mt 28.17 e Lc 24.52). Os anjos o adoram (Ap 5.11-12). E detalhe: em todas essas passagens, Jesus aceita a adoração. Porque Ele é Deus!

Poderíamos citar ainda Jesus como Criador (Jo 1.1-3), enviando testemunhas como o próprio Deus (compare  Isaías 43.10 com Atos 1.8), declarando-se Deus (Mc 2.7-12; Jo 8.56-58, 10.30) e julgando, no final dos tempos, "os segredos dos homens" (Rm 2.16), entre tantos outros textos. Mas esses já são suficientes para confirmar a divindade de Cristo. Detenhamo-nos agora na compreensão sobre a coexistência dessas duas naturezas distintas em Jesus - a natureza humana e divina.

Os dois lados da ponte
Compreender a humanidade e a divindade de Cristo é importantíssimo para entendermos a quem adoramos bem como a nossa Salvação em Cristo.

Jesus afirmou que Ele é o único caminho para Deus (Jo 14.6). Logo, Cristo é, por assim dizer, a única ponte sobre o abismo que nos separa de Deus. As pontes, sabemos, unem duas extremidades. Portanto, a título ilustrativo e didático, para entendermos a importância da humanidade e da divindade de Cristo, digamos que cada lado da "Ponte Cristo" representa uma natureza Dele. Um lado da ponte, a natureza humana. O outro lado, a natureza divina. Se cortarmos um dos lados da ponte, não poderemos, claro, chegar ao outro lado. Assim, os dois lados da "Ponte Cristo" têm que estar inteiros, não apenas um, para que cheguemos a Deus.

Se Cristo fosse só homem ou só Deus, seu sacrifício não seria perfeito. Somente um verdadeiro ser humano, plenamente justo, poderia morrer por todos os demais para salvá-los (Rm 5.18-19). Porém, não havia um justo sequer (Rm 3.10,23). Somente Deus é plenamente justo. Portanto, Deus teve que se fazer homem, ser tentado e vencer, e morrer na cruz como propiciação pelos nossos pecados, para que a Salvação fosse possível ( Jo 1.1-5,9-14;3.16,17; Rm 5.12,15).

Cristo é verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Jesus não é mais ou menos humano e 100% divino. Ele também não é 100% humano e mais ou menos divino. Ele também não é 50% homem e 50% Deus. A Bíblia diz que somente um Messias 100% homem e 100% Deus poderia efetuar a Salvação (Is 7.14; Ml 4.2; Mt 1.21-23). Em outras palavras, se Jesus era o Messias, e Ele o é, então é plenamente homem sem deixar de ser plenamente Deus. Se dissermos o contrário, sua obra na cruz seria um farsa. Aquele homem que morreu na cruz era Deus. Jesus é Deus feito homem, feito carne por nós (Jo 1.14).

Para entendermos melhor a coexistência dessas suas naturezas distintas em Cristo, vejamos alguns conceitos teológicos e bíblicos indispensáveis sobre a relação entre as duas naturezas de Jesus.

Conceitos das duas naturezas em Cristo
1) A união entre as duas naturezas é hipostática. O Concílio de Calcedônia, realizado em 451 d.C., foi o último que deu fim, uma vez por todas, ao debates sobre a pessoa única de Jesus provocados por pequenos grupos sectários do cristianismo. Foi a declaração de fé desse concílio que serviu de base para todas as formulações ortodoxas sobre a pessoa de Cristo até hoje. Basta lembrar que sua declaração de fé sobre Cristo foi aprovada plenamente pelos reformadores do século 16. Essa declaração afirma: "Devemos confessar que nosso Senhor Jesus Cristo é um único e o mesmo Filho (...) perfeito na divindade (...) perfeito na humanidade (...) de uma sé substância (em grego, homoousios) com o Pai na divindade; uma só substância (homoousios) conosco na humanidade (...), tornado conhecido em duas naturezas (physeis), sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação (...), sendo a propriedade de cada natureza preservada e correndo em uma só pessoa (prosõpon) e uma subsistência (hypostasis)".

Note a ênfase dessa declaração ortodoxa de fé: as duas naturezas de Cristo coexistem "sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação". Ela afirma ainda que Jesus é consubstancial conosco na humanidade e consubstancial com o Pai na divindade (homoousios), e a propriedade de cada uma das naturezas é preservada "concorrendo em uma subsistência". No original grego, o vocábulo que aparece aqui para "uma subsistência" é hypostasis. A ideia que esse termo  dá é a de uma união perfeita das duas naturezas (sem diminuição de nenhuma delas) em uma única pessoa. O seja, Jesus é plenamente homem e plenamente Deus.

O grego é uma língua rica. Ela conta com a riqueza de vocábulos diferentes para se referir a nuances de uma mesma situação. Exemplo: para se referir ao amor, o grego usa quatro vocábulos diferentes. Todos os quatro significam amor, porem cada um expressa um aspecto diferente do amor. Na língua portuguesa não temos isso. Se digo que amo meu amigo e amo minha esposa, claro que todos sabem que refiro-me ao amor em níveis e situações diferentes. Porém, se quiser ser mais preciso, é necessário acrescentar algum adjetivo ao termo amor para que isso seja evidenciado: o amor pelo meu amigo é o amor fraternal e o por minha esposa, amor conjugal.

O grego, por ser uma língua rica, não precisa disso. Há quatro termos que sozinhos significam amor, mas em níveis e situações absolutamente diferentes. Por exemplo, no caso que acabei de citar, seriam  fileo (amor fraternal) e eros (amor conjugal).

Pois bem, os cristãos do quinto século d.C., preocupados com a ortodoxia bíblica, ao procurarem minuciosamente na rica língua grega os termos que melhor expressariam a relação entre a humanidade e a divindade de Cristo, usaram justamente hypostasis. Foi uma escolha cuidadosa e importantíssima. Qualquer outro vocábulo não seria melhor para o caso. É por isso que os teólogos ortodoxos costumam dizer que a união das duas naturezas de Cristo trata-se de uma "fusão hipostática". Isto é, uma fusão perfeita de duas naturezas em uma única pessoa. Em outras palavras, a pessoa Cristo não era 50% homem e 50% Deus, não era meio homem e meio Deus, mas 100% homem e 100% Deus. O Deus Cristo é aquele homem. O homem Cristo é o verdadeiro Deus. Deus feito homem.

2) As duas naturezas coexistem em anipostasia e enipostasia. O que são "anipostasia" e "enipostasia"? Esses termos foram cunhados pela primeira vez por Leôncio de Bizâncio (475-543 d.C.), que na sua juventude aderiu à heresia nestoriana (vamos falar dela mais à frente), mas depois voltou à ortodoxia bíblica. Ele escreveu várias obras apologéticas, combatendo o nestorianismo, o eutiquianismo e o monofisismo, doutrinas heterodoxas sobre a pessoa de Cristo.

Os termos "anipostasia" e "enipostasia" foram usados por Leôncio quando estava em debate a autoconsciência de Cristo. Na época, alguns hereges ensinavam que, já que Jesus era homem e Deus ao mesmo tempo, ou Ele teria duas consciências - uma humana e uma divina, sendo uma á parte da outra - ou teria apenas uma única consciência, que seria ou apenas humana ou apenas divina. Que resolveram? Decidiram que o "eu" autoconsciente de Cristo era apenas divino, não existindo uma autoconsciência humana. em outras palavras, ensinavam o apolinarismo, doutrina que recebe esse nome por ter sido criada por Apolinário (310-390 d.C.), que afirmava que, na encarnação, o corpo de Jesus era humano, mas sua alma era divina. Isto é, Cristo não possuiria uma natureza completamente humana.

Leôncio combateu essa heresia afirmando que, uma vez que Jesus era verdadeiro homem, Ele tinha um corpo  humano e uma alma humana. Caso contrário, sua natureza humana seria incompleta, Ele seria meio homem. logo Jesus, por ter uma alma humana  tinha uma autoconsciência humana, mas esta, ressaltou Leôncio, não possuía existência própria. Ela existia apenas no âmbito da união hipostática, isto é, da união perfeita entre a natureza humana e a divina em uma única pessoa, o Cristo.

O termo usado por Leôncio para se referir à impossibilidade de a autoconsciência humana de Cristo viver à parte de sua divindade chama-se anipostasia. Já o termo usado para se referir ao fato de o "eu" humano autoconsciente de Cristo se achar presente e real apenas no "eu" divino é enipostasia. No grego, en significa "no" (enhypostasia). Já o prefixo grego an de anipostasia (anhypostasia) quer dizer "sem".

3) Há comunhão de propriedades entre as duas naturezas. Havia em Cristo uma comunhão genuína entre as duas naturezas. Portanto, é errado dizer que, quando Jesus efetuou certos atos (milagres), foi apenas como Deus; e, em outros casos, reagiu apenas como homem, não como Deus (quando se cansou, se irritou, sentiu fome e sede).

Ora, a Bíblia diz que os milagres que Jesus fez não foram realizados pelo seu poder como Deus, mas pelo poder do Espírito Santo (At 10.38). Por isso Ele disse aos seus discípulos que eles fariam obras maiores do que as Dele (Jo14.12). Quando Jesus operou milagres, operou-os como homem dependente do Espírito Santo (Lc 4.18). Quem viver uma vida de santidade e de dependência do Espírito, poderá ver também milagres em seu ministério e vida.

E quando Jesus se cansou, não se cansou apenas como homem. Ele se cansou como Deus feito homem, e se irritou como homem e Deus. Aliás, a beleza da encarnação é que ela nos apresenta Deus pisando o nosso chão, suando o nosso suor, comendo o que comemos, dormindo onde dormimos.É o deus verdadeiro vivendo como verdadeiro homem. Era Deus ali, conosco em humanidade.

4) Quando encarnou, Jesus não renunciou as funções e os atributos divinos. Esse princípio da Cristologia foi bastante defendido pelos reformadores ainda no século 16 e consiste no fato de que, enquanto Jesus estava aqui na Terra, Ele continuava com suas funções de sustentador de todas as coisas (Cl 1.17 e Hb 1.3). Jesus também permaneceu superior aos anjos, porque, mesmo sendo homem, continuava sendo o que sempre foi e será - Deus (Mt 26.53 e Hb 1.4-13)

5) As duas naturezas passaram por dois estados - da concepção à morte e da exaltação até hoje. Princípio também frisado pelos reformadores, ele enfatiza o fato de que as duas naturezas de Cristo passaram por dois estados - um da sua concepção no ventre de Maria até a sua ressurreição, e o outro a partir da sua ressurreição e ascensão (At 2.22-36; 2Co 8.9 e Fp 2.5-11). Jesus ressuscitou corporalmente, mas seu corpo, neste novo estado, foi glorificado. O mesmo corpo, mas glorificado.

6) Na encarnação, Cristo não despiu-se de sua divindade, mas de sua glória. A teoria de Kenosis diz que Jesus, quando estava aqui na Terra, despiu-se de sua divindade. Essa teoria baseia-se em uma frágil interpretação da passagem de Filipenses 2.7, que diz que Jesus "esvaziou-se" ou "aniquilou-se a si mesmo". no original grego, o termo usado nessa passagem bíblica é ekenõsen, daí o nome da teoria.

Para tentar não ser taxada como uma teoria que diz que o Jesus encarnado era Deus que passou a ser apenas homem, a Teoria de Kenosis diz que os atributos divinos de Jesus durante seu ministério terreno eram só "latentes" e "exercidos apenas em intervalos". Porém, mesmo que, na fusão entre as duas naturezas, o poder de Jesus como Deus fosse administrado em alguns momentos, isso não significa que ele havia se despido de sua divindade. E a prova está no próprio versículo utilizado para tentar provar o contrário. Uma leitura atenta em Filipenses 2 mostra que o verso 7 não está dizendo que Jesus renunciou seus poderes divinos, mas sim sua glória, isto é, sua dignidade divina. Administrando seu próprio poder depois de encarnado, Jesus "tornou-se a si mesmo insignificante", como ressaltam os teólogos James Packer e Bruce Milne.

Conceitos errados sobre as naturezas de Cristo
Cientes desses princípios, podemos perceber nitidamente agora os erros das heresias acerca da pessoa única de Jesus. Senão, vejamos (e usando a ilustração de Cristo como ponte, de que falamos já neste artigo)

a) Ebionismo - Advindo do cristianismo judaizante, dizia que Jesus era só homem, nada de Deus. Jesus seria apenas um Messias humano, nomeado por Deus para cumprir o seu desígnio e voltar no final dos temposEssa teoria quebra flagrantemente uma extremidade da Ponte Cristo, a divina, portanto é falsa.

b) Docetismo - Movimento que data dos tampos apostólicos e que resolveu cortar a outra extremidade da ponte, eliminando totalmente a humanidade de Cristo. Para o docetismo, Jesus só parecia ser humano (o vocábulo grego doceo significa "parecer"). Baseava-se nos ensinamentos grego-orientais de que a matéria é essencialmente má e que Deus não pode estar sujeito a sentimentos ou outras experiências humanas.

c) Gnosticismo - Tinha uma forte tendência docética. Para os gnósticos, Cristo não era Deus, mas um ser espiritual superior que desceu da "estratosfera celestial" e se uniu, durante algum tempo, a uma pessoa história, Jesus. Portanto, os dois elementos estavam frouxamente ligados em Cristo. Cortavam a ponte nas duas extremidades.

d) Arianismo - Ensino de Ário (256-336 d.C.), presbítero de Alexandria muito influenciado por Orígenes. consistia na ideia de que Jesus era criatura e não Deus. Cortava a ponte na extremidade da divindade. Dizia Ário que mesmo sendo superior aos anjos, "o Filho é criado". Para Ário, houve um tempo em que Ele (Cristo) não existia". O debate começou no Concílio de Nicéia (325), com o arianismo condenado, e resolvido definitivamente no Concílio de Constantinopla (381). Ainda hoje vemos esse ensino em seitas como os cristadelfianos e as Testemunhas de Jeová.

e) Apolinarismo - Para Apolinário (310-390 d.C.), de quem já falamos, na encarnação, o Deus Filho tomou o lugar da alma humana. Assim, Jesus era Deus possuindo um corpo humano. Seu corpo era humano, mas sua alma não. logo, não era plenamente humano. Cortou o lado humano da Ponte Cristo.

f) Nestorianismo - Nestório, que dá nome a esse pensamento, foi arcebispo de Constantinopla em 428 d.C. Contam os historiadores que Nestório, preocupado em defender a humanidade de Cristo, acabou dividindo demais as duas naturezas, colocando em dúvida a unidade pessoal em Cristo. muitos eruditos sérios de hoje afirmam que, provavelmente, Nestório não era nenhum herege, não tendo defendido muitas das opiniões que lhe são atribuídas. Ele teria sido mal interpretado e suas palavras distorcidas. Por isso,  foi removido do seu cargo de arcebispo em 431 d.C., mas trabalhou até a morte como profícuo missionário.

g) Eutiquianismo - É o outro extremo. Se o nestorianismo ensinava a separação exagerada entre as duas naturezas, Eutíquio ensinou uma união radical, ao ponto de afirmar que, na encarnação, a natureza humana se fundiu com a divina ao ponto de ser surgido uma terceira espécie de natureza. Assim Jesus seria uma terceira espécie de ser, nem plenamente homem, nem plenamente Deus. O eutiquianismo foi condenado em 448d.C., no Sínodo de Constantinopla, como heresia. depois de abandonar sua heresia, Eutíqui voltou a ser empossado em suas atividades já no ano seguinte, em 449 d.C.

Após todos esses movimentos, o Concílio de Calcedônia (451 d.C.) fechou os debates sobre as duas naturezas de Cristo com a declaração de fé que já falamos. Jesus, como está claro na Bíblia, é 100% homem e 100% Deus.


Referência Bibliográfica:


Revista Resposta Fiel, ano 6, nº 22, DEZ - JAN- FEV/ 2007, Casa Publicadora das Assembleias de Deus, Rio de Janeiro, RJ.



Ao lermos a Bíblia, vemos claramente o fato de que o homem Jesus Cristo é Deus. Muitas são as passagens bíblicas que ressaltam a humanidade e a divindade de Cristo. Apesar disso, não são poucas as confusões em torno das duas naturezas de Cristo, até mesmo entre cristãos sinceros.

É comum, por exemplo, vermos crentes que pensam que Jesus era 50% homem e 50% Deus. Tal assertiva, à primeira vista, para um crente não familiarizado com a doutrina bíblica, pode parecer normal. Mas não é. Afirmar isso é dizer que Jesus era meio homem e meio Deus, quando as Sagradas Escrituras afirmam que Cristo era, ao mesmo tempo, 100% homem e 100% Deus. Isto é, plenamente humano e absolutamente divino.

A plena humanidade de Cristo
Jesus foi concebido por obra e graça do Espírito Santo no útero de Maria, mas seu nascimento foi normal e humano (Mt 1.25; Lc 2.7 e Gl 4.4). Ele desenvolveu-se no ventre de sua mãe como qualquer outro feto saudável, passando por um período de gestação e trabalho de parto normais. Após seu nascimento, desenvolveu-se fisicamente de forma também normal (Lc 2. 40-52 e Hb 5.8), vivendo sadiamente em um lar (Mc 6.1-6).

As Sagradas Escrituras afirmam que Jesus esteve sujeito a todas as limitações físicas próprias da humanidade: teve sede (Jo 19.28), fome (Mt 21.18) e cansaço (Jo 4.6); e sentiu alegria ( Lc 10.21), tristeza (Mt 26.37), amor (Jo 11.5), compaixão (Mt 9.36), surpresa (Lc 7.9) e ira (Mc 3.5)

O teólogo britânico Bruce Milne, em sua obra Conheça a Verdade (ABU Editora, 1987), destaca que a tradução literal das passagens de Lucas 19.41, Mateus 27.46 e João 2.17 aponta para um Jesus que viveu intensamente as emoções humanas. Em Lucas, lê-se no original grego que "tomado de tristeza incontrolável, chorou". Na passagem de Mateus, lê-se que Jesus teve "uma consternação que se assemelha ao desalento". Já no Evangelho de João, o apóstolo descreve o Mestre com uma "indignação violenta que o consome como fogo".

Mas, uma das provas contundentes da humanidade de Jesus é a sua vida religiosa. Mesmo sendo Deus, Jesus, como homem, precisava estudar. Ele precisou aprender sua língua, como qualquer outra criança (Lc 2.52). Jesus estudou as Escrituras e meditou nelas para poder explicá-las (Lc 2.46,52). Agora , quando explicou-as, o fez com uma percepção singular (Mt 22.29; 26.54,56; Lc 4.21; 24.27, 44). Como homem, Jesus, também precisava orar. Todos os milagres que operou não foram por seu poder como Segunda Pessoa da Trindade, mas pelo poder do Espírito Santo (Mt 12.28; Lc 4.18 e At 10.38). Para isso, Jesus orava constantemente, e algumas vezes a noite inteira (Lc 6.12).

As tentações que sofreu são outra prova eloquente de sua humanidade. Ele foi "tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado" (Hb 4.15). Mas alguém pode dizer: "Será que essas tentações foram mesmo tentações para Ele, uma vez que Jesus não nasceu com natureza pecaminosa?" O fato de que as tentações que Cristo sofreu não terem contado com apoio interno, com uma natureza pecaminosa lutando dentro Dele a favor da tentação, como ocorre conosco quando somos tentados, não significa que Jesus não sofreu pressões quando foi tentado. Lembremos de Adão antes da Queda. Ele é um caso de natureza humana sem pecado, mas sujeita a uma tentação real (Gn 3). Além disso, o "filtro" da proteção divina na hora da tentação não estava sobre Jesus. Como assim?

1 Coríntios 10.13 diz que Deus faz com que nunca sejamos tentados "além das nossas forças". Como parafraseia Bruce Milne, "a tentação que encontramos é filtrada através da mão protetora de Deus". Acredita-se, porém, que, no caso de Jesus, esse "filtro" foi removido. Não é à toa que Cristo chegou a suar sangue em meio à tensão para fazer a vontade do Pai ( Lc 22.44). Assim, "Jesus não participou do pecado original e permaneceu sem pecado durante toda a sua vida, mas como verdadeiro homem, Ele suportou o peso e o poder da tentação a um ponto que jamais iremos experimentar", conclui Milne.

A plena divindade de Cristo
Há um profusão de textos que ressaltam a divindade de Jesus (Rm 9.5; Hb 1.8; Jo 1.1-3; 1.18; 20.28; At 20.28; Tt 2.13 e 2 Pd 1.1). Essas referências que acabei de citar são apenas as mais diretas. Existem outras passagens que, mesmo não sendo tão diretas, afirmam a divindade de Cristo. Por exemplo, aquelas que comparam a glória de Jesus com a glória do próprio Deus (1 Co 2.8; 2 Co 4.4; Hb 1.3; Tg 2.1 e Jo 17.5). Em João 12.41, a glória de Deus em Isaías 6 é a manifestação da glória de Jesus.

Em outras passagens, a Jesus são dirigidas orações e Ele recebe adoração (Ap 5.13; 7.10; 22.20; At 7.59; 9.13 e 1 Co 16.22). No original grego, o mesmo vocábulo usado para se referir à adoração que é devida somente à Deus em Mateus 4.10 (proskyneia) é utilizado para descrever a reação das pessoas em relação a Jesus (Mt 2.2,8,11;14.33; Mc 5.6; Jo 9.38). os discípulos o adoraram (Mt 28.17 e Lc 24.52). Os anjos o adoram (Ap 5.11-12). E detalhe: em todas essas passagens, Jesus aceita a adoração. Porque Ele é Deus!

Poderíamos citar ainda Jesus como Criador (Jo 1.1-3), enviando testemunhas como o próprio Deus (compare  Isaías 43.10 com Atos 1.8), declarando-se Deus (Mc 2.7-12; Jo 8.56-58, 10.30) e julgando, no final dos tempos, "os segredos dos homens" (Rm 2.16), entre tantos outros textos. Mas esses já são suficientes para confirmar a divindade de Cristo. Detenhamo-nos agora na compreensão sobre a coexistência dessas duas naturezas distintas em Jesus - a natureza humana e divina.

Os dois lados da ponte
Compreender a humanidade e a divindade de Cristo é importantíssimo para entendermos a quem adoramos bem como a nossa Salvação em Cristo.

Jesus afirmou que Ele é o único caminho para Deus (Jo 14.6). Logo, Cristo é, por assim dizer, a única ponte sobre o abismo que nos separa de Deus. As pontes, sabemos, unem duas extremidades. Portanto, a título ilustrativo e didático, para entendermos a importância da humanidade e da divindade de Cristo, digamos que cada lado da "Ponte Cristo" representa uma natureza Dele. Um lado da ponte, a natureza humana. O outro lado, a natureza divina. Se cortarmos um dos lados da ponte, não poderemos, claro, chegar ao outro lado. Assim, os dois lados da "Ponte Cristo" têm que estar inteiros, não apenas um, para que cheguemos a Deus.

Se Cristo fosse só homem ou só Deus, seu sacrifício não seria perfeito. Somente um verdadeiro ser humano, plenamente justo, poderia morrer por todos os demais para salvá-los (Rm 5.18-19). Porém, não havia um justo sequer (Rm 3.10,23). Somente Deus é plenamente justo. Portanto, Deus teve que se fazer homem, ser tentado e vencer, e morrer na cruz como propiciação pelos nossos pecados, para que a Salvação fosse possível ( Jo 1.1-5,9-14;3.16,17; Rm 5.12,15).

Cristo é verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Jesus não é mais ou menos humano e 100% divino. Ele também não é 100% humano e mais ou menos divino. Ele também não é 50% homem e 50% Deus. A Bíblia diz que somente um Messias 100% homem e 100% Deus poderia efetuar a Salvação (Is 7.14; Ml 4.2; Mt 1.21-23). Em outras palavras, se Jesus era o Messias, e Ele o é, então é plenamente homem sem deixar de ser plenamente Deus. Se dissermos o contrário, sua obra na cruz seria um farsa. Aquele homem que morreu na cruz era Deus. Jesus é Deus feito homem, feito carne por nós (Jo 1.14).

Para entendermos melhor a coexistência dessas suas naturezas distintas em Cristo, vejamos alguns conceitos teológicos e bíblicos indispensáveis sobre a relação entre as duas naturezas de Jesus.

Conceitos das duas naturezas em Cristo
1) A união entre as duas naturezas é hipostática. O Concílio de Calcedônia, realizado em 451 d.C., foi o último que deu fim, uma vez por todas, ao debates sobre a pessoa única de Jesus provocados por pequenos grupos sectários do cristianismo. Foi a declaração de fé desse concílio que serviu de base para todas as formulações ortodoxas sobre a pessoa de Cristo até hoje. Basta lembrar que sua declaração de fé sobre Cristo foi aprovada plenamente pelos reformadores do século 16. Essa declaração afirma: "Devemos confessar que nosso Senhor Jesus Cristo é um único e o mesmo Filho (...) perfeito na divindade (...) perfeito na humanidade (...) de uma sé substância (em grego, homoousios) com o Pai na divindade; uma só substância (homoousios) conosco na humanidade (...), tornado conhecido em duas naturezas (physeis), sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação (...), sendo a propriedade de cada natureza preservada e correndo em uma só pessoa (prosõpon) e uma subsistência (hypostasis)".

Note a ênfase dessa declaração ortodoxa de fé: as duas naturezas de Cristo coexistem "sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação". Ela afirma ainda que Jesus é consubstancial conosco na humanidade e consubstancial com o Pai na divindade (homoousios), e a propriedade de cada uma das naturezas é preservada "concorrendo em uma subsistência". No original grego, o vocábulo que aparece aqui para "uma subsistência" é hypostasis. A ideia que esse termo  dá é a de uma união perfeita das duas naturezas (sem diminuição de nenhuma delas) em uma única pessoa. O seja, Jesus é plenamente homem e plenamente Deus.

O grego é uma língua rica. Ela conta com a riqueza de vocábulos diferentes para se referir a nuances de uma mesma situação. Exemplo: para se referir ao amor, o grego usa quatro vocábulos diferentes. Todos os quatro significam amor, porem cada um expressa um aspecto diferente do amor. Na língua portuguesa não temos isso. Se digo que amo meu amigo e amo minha esposa, claro que todos sabem que refiro-me ao amor em níveis e situações diferentes. Porém, se quiser ser mais preciso, é necessário acrescentar algum adjetivo ao termo amor para que isso seja evidenciado: o amor pelo meu amigo é o amor fraternal e o por minha esposa, amor conjugal.

O grego, por ser uma língua rica, não precisa disso. Há quatro termos que sozinhos significam amor, mas em níveis e situações absolutamente diferentes. Por exemplo, no caso que acabei de citar, seriam  fileo (amor fraternal) e eros (amor conjugal).

Pois bem, os cristãos do quinto século d.C., preocupados com a ortodoxia bíblica, ao procurarem minuciosamente na rica língua grega os termos que melhor expressariam a relação entre a humanidade e a divindade de Cristo, usaram justamente hypostasis. Foi uma escolha cuidadosa e importantíssima. Qualquer outro vocábulo não seria melhor para o caso. É por isso que os teólogos ortodoxos costumam dizer que a união das duas naturezas de Cristo trata-se de uma "fusão hipostática". Isto é, uma fusão perfeita de duas naturezas em uma única pessoa. Em outras palavras, a pessoa Cristo não era 50% homem e 50% Deus, não era meio homem e meio Deus, mas 100% homem e 100% Deus. O Deus Cristo é aquele homem. O homem Cristo é o verdadeiro Deus. Deus feito homem.

2) As duas naturezas coexistem em anipostasia e enipostasia. O que são "anipostasia" e "enipostasia"? Esses termos foram cunhados pela primeira vez por Leôncio de Bizâncio (475-543 d.C.), que na sua juventude aderiu à heresia nestoriana (vamos falar dela mais à frente), mas depois voltou à ortodoxia bíblica. Ele escreveu várias obras apologéticas, combatendo o nestorianismo, o eutiquianismo e o monofisismo, doutrinas heterodoxas sobre a pessoa de Cristo.

Os termos "anipostasia" e "enipostasia" foram usados por Leôncio quando estava em debate a autoconsciência de Cristo. Na época, alguns hereges ensinavam que, já que Jesus era homem e Deus ao mesmo tempo, ou Ele teria duas consciências - uma humana e uma divina, sendo uma á parte da outra - ou teria apenas uma única consciência, que seria ou apenas humana ou apenas divina. Que resolveram? Decidiram que o "eu" autoconsciente de Cristo era apenas divino, não existindo uma autoconsciência humana. em outras palavras, ensinavam o apolinarismo, doutrina que recebe esse nome por ter sido criada por Apolinário (310-390 d.C.), que afirmava que, na encarnação, o corpo de Jesus era humano, mas sua alma era divina. Isto é, Cristo não possuiria uma natureza completamente humana.

Leôncio combateu essa heresia afirmando que, uma vez que Jesus era verdadeiro homem, Ele tinha um corpo  humano e uma alma humana. Caso contrário, sua natureza humana seria incompleta, Ele seria meio homem. logo Jesus, por ter uma alma humana  tinha uma autoconsciência humana, mas esta, ressaltou Leôncio, não possuía existência própria. Ela existia apenas no âmbito da união hipostática, isto é, da união perfeita entre a natureza humana e a divina em uma única pessoa, o Cristo.

O termo usado por Leôncio para se referir à impossibilidade de a autoconsciência humana de Cristo viver à parte de sua divindade chama-se anipostasia. Já o termo usado para se referir ao fato de o "eu" humano autoconsciente de Cristo se achar presente e real apenas no "eu" divino é enipostasia. No grego, en significa "no" (enhypostasia). Já o prefixo grego an de anipostasia (anhypostasia) quer dizer "sem".

3) Há comunhão de propriedades entre as duas naturezas. Havia em Cristo uma comunhão genuína entre as duas naturezas. Portanto, é errado dizer que, quando Jesus efetuou certos atos (milagres), foi apenas como Deus; e, em outros casos, reagiu apenas como homem, não como Deus (quando se cansou, se irritou, sentiu fome e sede).

Ora, a Bíblia diz que os milagres que Jesus fez não foram realizados pelo seu poder como Deus, mas pelo poder do Espírito Santo (At 10.38). Por isso Ele disse aos seus discípulos que eles fariam obras maiores do que as Dele (Jo14.12). Quando Jesus operou milagres, operou-os como homem dependente do Espírito Santo (Lc 4.18). Quem viver uma vida de santidade e de dependência do Espírito, poderá ver também milagres em seu ministério e vida.

E quando Jesus se cansou, não se cansou apenas como homem. Ele se cansou como Deus feito homem, e se irritou como homem e Deus. Aliás, a beleza da encarnação é que ela nos apresenta Deus pisando o nosso chão, suando o nosso suor, comendo o que comemos, dormindo onde dormimos.É o deus verdadeiro vivendo como verdadeiro homem. Era Deus ali, conosco em humanidade.

4) Quando encarnou, Jesus não renunciou as funções e os atributos divinos. Esse princípio da Cristologia foi bastante defendido pelos reformadores ainda no século 16 e consiste no fato de que, enquanto Jesus estava aqui na Terra, Ele continuava com suas funções de sustentador de todas as coisas (Cl 1.17 e Hb 1.3). Jesus também permaneceu superior aos anjos, porque, mesmo sendo homem, continuava sendo o que sempre foi e será - Deus (Mt 26.53 e Hb 1.4-13)

5) As duas naturezas passaram por dois estados - da concepção à morte e da exaltação até hoje. Princípio também frisado pelos reformadores, ele enfatiza o fato de que as duas naturezas de Cristo passaram por dois estados - um da sua concepção no ventre de Maria até a sua ressurreição, e o outro a partir da sua ressurreição e ascensão (At 2.22-36; 2Co 8.9 e Fp 2.5-11). Jesus ressuscitou corporalmente, mas seu corpo, neste novo estado, foi glorificado. O mesmo corpo, mas glorificado.

6) Na encarnação, Cristo não despiu-se de sua divindade, mas de sua glória. A teoria de Kenosis diz que Jesus, quando estava aqui na Terra, despiu-se de sua divindade. Essa teoria baseia-se em uma frágil interpretação da passagem de Filipenses 2.7, que diz que Jesus "esvaziou-se" ou "aniquilou-se a si mesmo". no original grego, o termo usado nessa passagem bíblica é ekenõsen, daí o nome da teoria.

Para tentar não ser taxada como uma teoria que diz que o Jesus encarnado era Deus que passou a ser apenas homem, a Teoria de Kenosis diz que os atributos divinos de Jesus durante seu ministério terreno eram só "latentes" e "exercidos apenas em intervalos". Porém, mesmo que, na fusão entre as duas naturezas, o poder de Jesus como Deus fosse administrado em alguns momentos, isso não significa que ele havia se despido de sua divindade. E a prova está no próprio versículo utilizado para tentar provar o contrário. Uma leitura atenta em Filipenses 2 mostra que o verso 7 não está dizendo que Jesus renunciou seus poderes divinos, mas sim sua glória, isto é, sua dignidade divina. Administrando seu próprio poder depois de encarnado, Jesus "tornou-se a si mesmo insignificante", como ressaltam os teólogos James Packer e Bruce Milne.

Conceitos errados sobre as naturezas de Cristo
Cientes desses princípios, podemos perceber nitidamente agora os erros das heresias acerca da pessoa única de Jesus. Senão, vejamos (e usando a ilustração de Cristo como ponte, de que falamos já neste artigo)

a) Ebionismo - Advindo do cristianismo judaizante, dizia que Jesus era só homem, nada de Deus. Jesus seria apenas um Messias humano, nomeado por Deus para cumprir o seu desígnio e voltar no final dos temposEssa teoria quebra flagrantemente uma extremidade da Ponte Cristo, a divina, portanto é falsa.

b) Docetismo - Movimento que data dos tampos apostólicos e que resolveu cortar a outra extremidade da ponte, eliminando totalmente a humanidade de Cristo. Para o docetismo, Jesus só parecia ser humano (o vocábulo grego doceo significa "parecer"). Baseava-se nos ensinamentos grego-orientais de que a matéria é essencialmente má e que Deus não pode estar sujeito a sentimentos ou outras experiências humanas.

c) Gnosticismo - Tinha uma forte tendência docética. Para os gnósticos, Cristo não era Deus, mas um ser espiritual superior que desceu da "estratosfera celestial" e se uniu, durante algum tempo, a uma pessoa história, Jesus. Portanto, os dois elementos estavam frouxamente ligados em Cristo. Cortavam a ponte nas duas extremidades.

d) Arianismo - Ensino de Ário (256-336 d.C.), presbítero de Alexandria muito influenciado por Orígenes. consistia na ideia de que Jesus era criatura e não Deus. Cortava a ponte na extremidade da divindade. Dizia Ário que mesmo sendo superior aos anjos, "o Filho é criado". Para Ário, houve um tempo em que Ele (Cristo) não existia". O debate começou no Concílio de Nicéia (325), com o arianismo condenado, e resolvido definitivamente no Concílio de Constantinopla (381). Ainda hoje vemos esse ensino em seitas como os cristadelfianos e as Testemunhas de Jeová.

e) Apolinarismo - Para Apolinário (310-390 d.C.), de quem já falamos, na encarnação, o Deus Filho tomou o lugar da alma humana. Assim, Jesus era Deus possuindo um corpo humano. Seu corpo era humano, mas sua alma não. logo, não era plenamente humano. Cortou o lado humano da Ponte Cristo.

f) Nestorianismo - Nestório, que dá nome a esse pensamento, foi arcebispo de Constantinopla em 428 d.C. Contam os historiadores que Nestório, preocupado em defender a humanidade de Cristo, acabou dividindo demais as duas naturezas, colocando em dúvida a unidade pessoal em Cristo. muitos eruditos sérios de hoje afirmam que, provavelmente, Nestório não era nenhum herege, não tendo defendido muitas das opiniões que lhe são atribuídas. Ele teria sido mal interpretado e suas palavras distorcidas. Por isso,  foi removido do seu cargo de arcebispo em 431 d.C., mas trabalhou até a morte como profícuo missionário.

g) Eutiquianismo - É o outro extremo. Se o nestorianismo ensinava a separação exagerada entre as duas naturezas, Eutíquio ensinou uma união radical, ao ponto de afirmar que, na encarnação, a natureza humana se fundiu com a divina ao ponto de ser surgido uma terceira espécie de natureza. Assim Jesus seria uma terceira espécie de ser, nem plenamente homem, nem plenamente Deus. O eutiquianismo foi condenado em 448d.C., no Sínodo de Constantinopla, como heresia. depois de abandonar sua heresia, Eutíqui voltou a ser empossado em suas atividades já no ano seguinte, em 449 d.C.

Após todos esses movimentos, o Concílio de Calcedônia (451 d.C.) fechou os debates sobre as duas naturezas de Cristo com a declaração de fé que já falamos. Jesus, como está claro na Bíblia, é 100% homem e 100% Deus.


Referência Bibliográfica:


Revista Resposta Fiel, ano 6, nº 22, DEZ - JAN- FEV/ 2007, Casa Publicadora das Assembleias de Deus, Rio de Janeiro, RJ.
https://setimodia.wordpress.com/palestras-e-series-evangelisticas/alejandro-bullon-audios/

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Aparições de Jesus no Antigo Testamento

Não, você não entendeu errado. E não, não é uma heresia. Jesus Cristo está presente, sim, no Antigo testamento. E não estou falando de Josué (cujo nome em Hebraico é o equivalente ao de Jesus em grego – Yeshua’), ou de alguma citação messiânica sobre Jesus. Me refiro a Jesus conversando pessoalmente com personagens da Bíblia. Duvida? Basta ler até o final.
Antes, precisamos ver as diferenças entre os anjos ‘comuns’ e “O Anjo do Senhor”, que é Jesus.
1.       Anjos não aceitam adoração: O único digno de receber adoração é Deus. O anjo que revelou a visão do Apocalipse à João foi bem claro sobre isso em Ap 22.8,9
E eu, João, sou aquele que vi e ouvi estas coisas. E, havendo-as ouvido e visto, prostrei-me aos pés do anjo que me mostrava para o adorar.
E disse-me: Olha, não faças tal, pporque eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus.” Ap 22.8,9

2.       O chamado Anjo do Senhor não é citado, em momento algum, após o nascimento de Jesus: Das 188 vezes em que é usada a palara Anjo (mal’ak) no antigo testamento, na maioria delas ela é citada da forma “um anjo do Senhor”. Porém, em 62 dessas passagens, o anjo em questão é chamado de “o Anjo do Senhor”, mostrando que esse anjo é único; especial. E, em todas essas passagens, o chamado Anjo do Senhor toma atitudes que apenas Deus tomaria.
Aparições
                Ao invés de ficar falando de características, é melhor mostrar logo passagens em que a Bíblia fala de um anjo, mas que fica bem claro tratar-se de Deus.

1.       Em Juízes 2.1, fica muito claro que o Anjo do Senhor está falando como se fosse o próprio Deus. Diferente dos outros anjos e dos profetas, não é usada a frase “Assim diz o Senhor:”, ou “Assim diz o Senhor dos exércitos”.
“E subiu o Anjo do Senhor de Gilgal a Boquim e disse: Do Egito vos fiz subir, e vos trouxe à terra que a vossos pais tinha jurado, e disse: Nunca invalidarei o meu concerto convosco.” Jz 2.1

2.       Em Juízes 6.11-16, O Anjo do Senhor aparece a Gideão, dando-o orientações e dizendo à ele que a vitória é certa. Pode-se notar que, durante a passagem, a Bíblia relata que o diálogo acontece entre Gideão e Deus.
Então, o senhor olhou para ele e disse (…)” Jz 6.14

3.       Por último, temos a passagem de Juízes 13.15-22, que tem todas essas indicações, juntas.

“Então Manoá disse ao Anjo do Senhor: ora deixa que te detenhamos, e te preparemos um cabrito. (…) E disse Manoá ao Anjo do Senhor: Qual é o teu nome, para que, quando se cumprir a tua palavra, te honremos? E o Anjo do Senhor lhe disse: Por que perguntas assim pelo meu nome, visto que é maravilhoso? Então Manoá tomou um cabrito e uma oferta de alimentos, e os ofereceu sobre uma penha ao Senhor: (…) E sucedeu que (…) o Anjo do Senhor subiu na chama do altar; o que vendo Manoá e sua mulher, caíram em terra sobre seus rostos. (…), então compreendeu Manoá que era o Anjo do Senhor. E disse Manoá à sua mulher: Certamente morreremos, porquanto temos visto a Deus.Jz 13.15-22

                Podemos ver, nessa passagem, que:
·         O Anjo diz que o próprio nome é maravilhoso – Visto que o profeta Isaías, no Cap 9, Vs 6, diz que “Um menino nos nasceu (…) e o nome dele será maravilhoso, (…) Príncipe da paz.”, se referindo a Jesus.
·         O Anjo do Senhor subiu ao céu junto com a chama do altar – O que, para a maioria dos estudiosos, é considerado uma mostra de que o Anjo (Jesus) fazia parte do sacríficio, que seria consumado muitos anos depois, na cruz.
·         Manoá reconhece que o Anjo era Deus – Manoá, como servo do Senhor (dá pra notar isso pelo fato dele fazer sacrifícios à Deus), reconhece que estava perante Deus, provavelmente por revelação do espírito Santo.
·         O aparecimento do Anjo do Senhor foi para trazer à Manoá o nascimento de Sansão – O anjo veio para dizer à esposa de Manoá que ela teria um filho. Coincidência ou não, esse anjo vem noticiar que uma mulher que não podia ter filhos teria um, de modo parecido com o nascimento de Jesus (Maria era virgem, e a esposa de Manoá, estéril). Podemos ter certeza de que não é o mesmo anjo que foi dar a notícia a Maria mãe de Jesus, pelo simples fato de que o anjo que visitou Maria foi Gabriel (vide Lc 1.26), enquanto o Anjo que visitou Manoa disse “porque perguntas pelo meu nome, visto que é Maravilhoso?”Jz 13.18.

Apesar de não interferir diretamente na nossa salvação, ter o conhecimento de que Jesus já operava maravilhas pessoalmente mesmo no Antigo Testamento, serve para nos mostrar o quão maravilhoso Ele é, e que pode fazer muito, MUITO mais do que podemos imaginar.
                Que esse Jesus maravilhoso, que opera na minha vida e na sua, a cada dia nos ajude mais e mais a caminhar, e que possamos todos, juntos, louvá-lo e adorá-lo nesse novo tempo que há de começar quando ele vier buscar a sua Igreja! Amém!

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

INFERNO: O que é o bicho que não morre?


Outra passagem que os imortalistas costumam lançar mão na tentativa de colocarem o horror do tormento eterno na Bíblia é a de Marcos 9:47-48, que diz:“E, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora; melhor é para ti entrares no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno, onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga” (cf. Mc.9:47,48).
Já conferimos que a linguagem do “fogo que não se apaga” em nada alude à ideia de um tormento eterno, mas favorece incontestavelmente a tese bíblica do aniquilacionismo com efeitos eternos (o que você pode conferir clicando aqui), como ocorreu em absolutamente todas as ocasiões em que semelhante linguagem foi empregada na Bíblia.
Mas e quanto ao “bicho que não morre”? Seria essa uma evidência bíblica da existência de bichos imortais? Duas coisas temos que frisar aqui logo de cara. Em primeiro lugar, o texto não diz que o bicho nunca morrerá, mas que “não morre”, o que não indica necessariamente um processo eterno de existência, mas que não morre por um tanto indeterminado de tempo, ou seja, até que seus corpos sejam completamente consumidos.
E, em segundo lugar, o sentido do texto é obviamente hiperbólico, pois nestes mesmos versos Cristo afirma para arrancar os olhos ou cortar pernas e braços para entrar no Reino dos céus. Será que por isso no Reino haverá caolhos, manetas e pernetas? Será que a vontade de Deus é de amputar membros do corpo físico, que é o templo do Espírito Santo (cf. 1Co.6:19)? Logicamente Jesus estava apenas fazendo uso de hipérbole neste contexto, e não sendo literal. Não existe um verme que seja imortal, da mesma forma que não temos que amputar literalmente nossos membros para fazer parte do reino.
Em terceiro lugar, é importante mencionar que não há qualquer referência bíblica de que um “verme” ou “bicho” possa ganhar imortalidade. Se os seres humanos não possuem alma imortal, os bichos muito menos. De fato, os próprios imortalistas reconhecem que os bichos não são imortais, pois Salomão nos diz que eles morrem (cf. Ec.3:19) e voltam ao pó (cf. Ec.3:20), e que seu espírito “desce” na morte (cf. Ec.3:21), indicando que não há ressurreição futura para eles. Se o bicho não é imortal, como os imortalistas interpretam essa passagem?
Boa parte deles entendem a expressão “o seu bicho” como se referindo “ao seu corpo”, dizendo que o corpo humano dos ímpios não morreria, e não que existiriam “bichos imortais”. Contudo, tal alegação esbarra no fato de que absolutamente nunca a Bíblia se refere ao nosso corpo como sendo um “bicho” ou “verme”, como traduziram este verso. Em outras palavras, os imortalistas querem colocar na Bíblia uma expressão que ela nunca diz quando se refere ao corpo.
Se o corpo fosse de fato um “bicho” ou um “verme”, seria imprescindível que qualquer um dos inúmeros escritores bíblicos tivesse expressado tal condição em qualquer um dos 66 livros da Sagrada Escritura, mas como nenhum deles em qualquer ocasião se referiu desta forma fica óbvio que essa tentativa não passa de uma visão tendenciosa do texto bíblico, quando os imortalistas tentam fazer ecegese e não exegese no texto, e quando se veem desesperados ao ponto de terem que dizer que o verme não é verme e o bicho não é bicho, mas que é o nosso corpo, mesmo que nunca a Bíblia tenha se referido ao nosso corpo como sendo um verme!
Essa evidente contradição se vê ainda mais forte quando deparamos isso com o relato bíblico de que o nosso corpo não é um “bicho” ou um “verme”, como se fosse uma coisa desprezível qualquer, mas é o templo do Espírito Santo (cf. 1Co.6:19). O próprio Senhor Jesus foi dotado de um corpo quando se fez homem e habitou entre nós (cf. Hb.10:5). Essa visão despreza o valor do corpo, que Paulo diz que deve ser apresentado a Deus (cf. Rm.12:1). O que deve ser apresentado a Deus como um “sacrifício vivo, santo e agradável” não é um verme ou um bicho qualquer, mas o templo do Espírito Santo, onde o próprio Deus faz morada.
Outros imortalistas vão ainda mais longe em suas imaginações férteis e afirmam que este “verme” é a própria alma, como se Cristo estivesse igualando esse “bicho” à própria “alma” em si e não soubesse diferenciar “bicho” e “alma” (como se fossem a mesma coisa), como se Deus tivesse criado uma alma imortal para depois chamá-la de “verme”! O que detona de uma vez por todas com essas interpretações malucas de que o “bicho” seja uma referência ao próprio corpo ou à alma é o significado da palavra empregada originalmente por Jesus, que é skolex, que, de acordo com o léxico da Concordância de Strong, significa:
4663 σκωληξ skolex
de derivação incerta; TDNT – 7:452,1054; n m
1) verme, espec. aquele tipo que depreda cadáveres.
O The NAS New Testament Greek Lexicon segue nessa mesma linha e define skolex como sendo “um verme, especificamente aquele tipo que ataca os cadáveres”[1]. Como vemos, os léxicos do grego não dão como significado possível para skolex o próprio corpo ou a alma, o que nos ajuda ainda mais a refutarmos tal interpretação imortalista, que não é apoiada em nenhum lugar das Escrituras e em nenhum léxico do grego – ou seja, é “apoiada” apenas em suas próprias imaginações. O fato é que Cristo não apenas citou um verme, mas um tipo específico de verme, especialmente ligado àqueles que depredam cadáveres, que atacam corpos mortos. E isso nos leva ao quarto lugar: Cristo não falava de almas humanas vivas, mas de meros cadáveres! E isso fica claro pelo fato de Jesus ter usado este texto de Isaías, que originalmente disse:
“Sairão e verão os cadáveres dos que se rebelaram contra mim; o seu verme não morrerá, e o seu fogo não se apagará, e causarão repugnância a toda a humanidade” (cf. Isaías 64:24)
Note que Isaías não contemplava almas imortais em meio às chamas, nem espíritos incorpóreos queimando eternamente, mas cadáveres, ou seja, pessoas já mortas, que perderam a vida! A palavra empregada por Isaías foi peger, que significa:
06297 peger
procedente de 6296; DITAT – 1732a; n. m.
1) cadáver, carpo morto, monumento, estela.
1a) cadáver (de homem).
1b) carpo morto (de animais).
Portanto, Isaías em nada falava de um tormento eterno para almas imortais com corpos ressurretos incorruptíveis para serem eternamente refratários ao fogo, mas sim cadáveres, isto é, corpos já mortos! E Jesus seguiu exatamente essa mesma linha, pois citou o texto de Isaías, dizendo que “o seu verme não morrerá”. Esse verme em nada tem a ver com o próprio corpo humano ou com a alma humana, mas diz respeito ao tipo de verme que depreda cadáveres, porque o texto bíblico fala de cadáveres e não de almas!
Ora, o geena, como já vimos, era o nome dado ao Vale de Hinon, que se localizava ao sul de Jerusalém. Era um verdadeiro “lixão público”, local onde se deixavam os resíduos, bem como toda a sorte de cadáveres de animais e malfeitores, e imundícies de todas as espécies, recolhidas da cidade. Neste local era aceso um “fogo que nunca se apagava”, pelo fato de que estava constantemente aceso, tendo em vista que suportava todos os tipos de lixo e carniça que eram ali despejados. Os dejetos que não eram rapidamente consumidos pela ação do fogo eram consumidos pela devastação dos vermes que ali se achavam, que devoravam as entranhas dos cadáveres dos impenitentes que lá eram lançados, em um espetáculo realmente aterrador.
E é este cenário que Isaías contemplava como o juízo final, e de que Jesus fez menção. Não era um cenário onde almas imortais com corpos incorruptos ressurretos eram atormentadas eternamente em meio às chamas, mas onde cadáveres (i.e, corpos de pessoas já mortas, aniquiladas) são lançados para serem devorados pelos skolex (tipo específico de verme que ataca cadáveres). Essa visão, portanto, é totalmente condizente com o aniquilacionismo, pois somente deste jeito que Jesus e Isaías estariam contemplando cadáveres de pessoas já mortas, aniquiladas, e não almas imortais com corpos vivos e incorruptíveis.
Um judeu da época de Cristo podia entender isso perfeitamente, pois conhecia o texto de Isaías de onde Jesus fazia menção e sabia bem aquilo que era o geena, pois conviviam com o Vale de Hinon ao sul de Jerusalém, mas um imortalista de séculos posteriores, que nada sabe de nada disso, consegue facilmente contradizer o ensino claro de Cristo a este respeito, através de uma exegese pobre e superficial que distorce completamente aquilo que foi dito, conseguindo enganar os mais incautos.
Extraído de livro: “A Lenda da Imortalidade da Alma”, de Lucas Banzoli.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Deus não tem culpa de o Diabo ser Diabo



Imagine a cena: Jesus volta em glória e majestade (Ap 1:7) para executar o juízo final sobre o Diabo (Mt 25:41). Antes de Satanás ser jogado no lago de fogo, eles mantêm o seguinte diálogo para “colocar todas as cartas na mesa”:
Demônio: – Por que serei condenado e jogado no lago de fogo se você, em Sua Onisciência, predestinou-me para ser assim?
Jesus Cristo: – Predestinei-o para ser Satanás por causa da minha Soberania.
Demônio: – Mas, se o Senhor é Soberano, por que não determinou, em Sua Soberania, que eu fosse Lúcifer, um anjo de luz, durante a vida toda? Assim, o universo viveria em harmonia por toda a eternidade e muita dor teria sido evitada.
Jesus Cristo: – Já lhe disse: é a minha Soberania quem define isso.
Demônio: – Mas por que tem que ser assim?
Jesus Cristo: – Por que eu sou Soberano e pronto. Mesmo eu sendo amor e tendo estabelecido princípios morais desde a eternidade, em minha Soberania decidi criar seres que me desobedecessem. O que você tem com isso?
Demônio: – Mas eu não poderia ter escolhido ser bom?
Jesus Cristo: – Não! Eu amo o bem e em mim não há treva alguma (1Jo 1:5); escrevi os Dez Mandamentos (Ex 31:18), porém, eu decidi persuadi-lo, desde a eternidade, a ser mau mesmo. Sou Soberano e faço o que eu quiser. Sou livre para predestinar pessoas a desobedecerem aos mandamentos morais que eu mesmo estabeleci (Ex 20; Dt 5).
Demônio: – Tudo bem, Deus. Já que você decidiu em Sua Soberania que eu me tornaria Diabo, vai em frente. Mas que eu ainda não entendi o porquê de haver me criado assim, não entendi. E, nunca entenderei. Afinal, o Senhor deve ter me predestinado para ser ignorante.
[Fim do diálogo]
Esse é mais ou menos o tipo de “diálogo” que os deterministas rígidos (há um tipo de determinismo mais suave) querem que aceitemos. Não foi à toa que o teólogo Clark Pinnock, ex-calvinista, declarou:
“O Calvinismo envolve a pessoa em dificuldades agonizantes de primeira grandeza [ele afirma isso por experiência própria]. Faz com que Deus se transforme num tipo de terrorista que vai por aí distribuindo tortura e desastre [afinal, Deus “determinou” que Hitler mataria 6 milhões de judeus], e até mesmo exigindo que as pessoas façam coisas que a Bíblia diz que Deus aborrece […]. Não há maneira de limpar a reputação de Deus, num caso assim. Não é preciso a pessoa pensar muito para responder por que muita gente torna-se descrente, ou ateu, ao defrontar-se com tal teologia. Um Deus assim teria muita coisa por que responder”.(Predestinação e Livre-Arbítrio [Mundo Cristão, 2010], p. 78).
Se o Diabo fosse designado por Deus para ser “homicida desde o princípio” (Jo 8:44), o inimigo teria razão em questionar o poder da Soberania de Deus. Afinal, se Deus é Soberano ao ponto de negar a criaturas racionais o direito de escolha, por que não escolheu por elas, para que elas fossem boas por toda a eternidade, assim como Ele é Bondoso?
Separar a soberania de Deus do amor dEle pela moral, tornando-O responsável por aquilo que Ele mesmo odeia, é um sacrilégio. É uma aberração teológica de primeira “grandeza”.
LÚCIFER É QUEM QUIS SER DIABO
Deus não predestinou Lúcifer para se transformar no “capeta”, e muito menos decidiu “programar” criaturas para O amarem, enquanto “programa” outras para O odiarem. O Criador da razão criou Lúcifer perfeito (Ez 28:15) e dotou a humanidade com livre-arbítrio (Gn 2:16, 17; 3:15) para que todos possam amá-Lo livremente e serem moralmente responsáveis pelas próprias atitudes (Gn 4:7; Js 24:15; Tg 1:14). Apenas assim a doutrina do juízo possui sentido (Ec 12:13-14; Rm 14:12; 2Co 5:10).
Os calvinistas rígidos confundem presciência com a predestinação, sendo que Paulo, de modo claro, diferenciou as duas coisas em Romanos 8:29. Se predestinação e presciência não são a mesma coisa, isso significa que Deus não predestina tudo o que Ele prevê.
É claro que presciência e predestinação trabalham juntas; porém, a presciência de Deus não O faz determinar a perdição de grande parte da população. Se assim o fosse, então a presciência de Deus é tão incompetente que O fez “predestinar” a maioria para a perdição (Ap 20:8, 9), ao invés de fazê-Lo predestinar a maioria para o céu (Mt 7:13, 14).
Além disso, os deterministas supervalorizam a Soberania Divina em detrimento do Seu Amor, Onipotência, etc. E, pior: não têm a compreensão correta do conceito bíblico de Soberania Divina.*
Ao invés de crerem que Deus é tão Soberano ao ponto de fazer criaturas livres e moralmente responsáveis (Is 66:4 – preste atenção nesse texto), mesmo após o pecado (interpretemos Romanos 3 à luz de Gênesis 3:15), creem que Ele é Soberano no sentido de programar a mente de cada um para aceitá-Lo ou rejeitá-Lo, sendo que Ele mesmo fica decepcionado quando o ser humano o rejeita! Veja como a Bíblia ignora tal compreensão determinista:
Como seria bom se eles sempre pensassem assim, e me respeitassem, e sempre obedecessem a todos os meus mandamentos! Assim tudo daria certo para eles e para os seus descendentes para sempre.” (Dt 5:29, NTLH).
Já pensou Deus ficar chateado por Ele mesmo ter predestinado as pessoas para serem desobedientes e pecadoras? Isso é um absurdo sem tamanho. Imaginou o Criador, em Deuteronômio 5:29, lamentar aquilo que Ele mesmo determinou que as pessoas fossem, ou seja, desobedientes? Se lermos o texto com os olhos calvinistas, poderíamos “reinterpretá-lo” da seguinte maneira:
“Como seria bom se eu tivesse predestinado os Israelitas para obedecerem aos meus mandamentos! Pena que não fiz isso em minha Soberania…”
Graças a Deus que, na Bíblia, não há lugar para o “Deus esquizofrênico” criado pelos calvinistas rígidos.
PARADOXO = DESCULPA ESFARRAPADA
Quando questionados sobre como um ser humano pode ser moralmente responsável pelos próprios pecados, se foi Deus quem decretou que o ser humano pecaria, alguns calvinistas respondem que isso é um “paradoxo”.
Na verdade, o termo “paradoxo”, como usado por eles, é mais uma palavra para justificar o injustificado. É uma maneira de a pessoa “sair de fininho” sem se comprometer ainda mais em dar uma explicação racional para determinado fato contraditório.
Em minha opinião, essa palavra, quando empregada pelos deterministas, é um eufemismo paradesculpa esfarrapada.
Nossos irmãos calvinistas deveriam aceitar o que a Bíblia ensina em Lucas 7:30: que o pecador rejeita a Cristo por decisão própria e não por decreto Divino:
“Mas os fariseus e os mestres da Lei não quiseram ser batizados por João e assim rejeitaram o plano de Deus para eles.” (Lc 7:30, NTLH).
Veja que Deus é tão Soberano que permitiu aos fariseus rejeitarem o plano dEle para eles!Deveríamos ler a Bíblia e aceitá-la como ela é. Assim, não precisamos criar termos para justificar aquilo que é absurdamente contra a razão e o bom senso.
Assim como o plano do Salvador para os fariseus não era a perdição, o plano da Divindade para você, amigo leitor, não é o lago de fogo. “Deus idealizou e resolveu a estrutura do plano de salvar a humanidade” (Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, [Casa Publicadora Brasileira, 2011] p. 132), segundo Efésios 1:9, e não idealizou que alguns O rejeitassem.
Desse modo, use corretamente o livre-arbítrio que Ele devolveu ao ser humano (Gn 3:15). Aproveite que Ele colocou em seu coração uma “inimizade” contra a “serpente” (Satanás – Ap 12:9) e decida-se por Jesus Cristo e as Verdades dEle. Aceite o plano de salvação disponibilizado a “todo o mundo” (Mc 16:15) e faça parte do povo de Deus que desfrutará de vida e felicidade eternas ao lado da Divindade:
“[…] Aquele que tem sede venha. E quem quiser receba de graça da água da vida.” (Ap 22:17)
E aí, caro leitor? Você crê que Deus criou Lúcifer para ele se transformar em Diabo e Satanás, trazendo assim dor e sofrimento ao universo? Caso não, parabéns! Você não é (ou está deixado de ser) um calvinista rígido e, portanto, compreenderá melhor o plano de salvação e o amor infinito que Deus sente por todas as criaturas dEle.
Esse amor Ele evidencia também ao dar a cada ser a oportunidade de escolher amá-Lo ou não. Se não fosse assim, o próprio Deus não seria “portador” do amor altruísta de 1 Coríntios 13.

Jesus a Palavra de Deus que era Deus. Rei dos Reis, Senhor dos Senhores.Possui toda Gloria.


Jesus a Palavra de Deus que era Deus.
 
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele.Não era ele a luz, mas para que testificasse da luz.Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo.Estava no mundo, e o mundo foi feito por ele, e o mundo não o conheceu.João 1:1-10
 
Rei dos Reis Senhor dos Senhores.

Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças Deuteronômio 6:4,5
E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pôr-lhe-ás o nome de Jesus.Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai;E reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.Lucas 1:31-33

Mando-te diante de Deus, que todas as coisas vivifica, e de Cristo Jesus, que diante de Pôncio Pilatos deu o testemunho de boa confissão,Que guardes este mandamento sem mácula e repreensão, até à aparição de nosso Senhor Jesus Cristo;A qual a seu tempo mostrará o bem-aventurado, e único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores;Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém.1 Timóteo 6:13-16

E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga e peleja com justiça.E os seus olhos eram como chama de fogo; e sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo.E estava vestido de veste tingida em sangue; e o nome pelo qual se chama é A Palavra de Deus.E seguiam-no os exércitos no céu em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro.E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso.E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos senhores.Apocalipse 19:11-16

Possui toda Gloria.
Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistério, a qual Deus ordenou antes dos séculos para nossa glória;A qual nenhum dos príncipes deste mundo conheceu; porque, se a conhecessem, nunca crucificariam ao Senhor da glória.1 Coríntios 2:7,8

E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados,E nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a ele glória e poder para todo o sempre. Amém.Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim. Amém.Apocalipse 1:5-7

Esta é uma grande doxologia a Cristo, mostrando que Ele tem TODA glória e TODO domínio.
Mas no AT, Is. 42.8 disse que SÓ Jeová tem TODA glória, além de não dividí-la com ninguém, se Jesus fosse um deus falso (ou um deusinho, como os TJ dizem). "A adoração de Cristo que vibra nesta doxologia é uma das partes mais impressionantes deste livro" (Moffatt). Veja IPd. 4:1:" Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!"

Você conseguiria imaginar Deus, Jeová, vendo Sua glória sendo dividida com um deus chamado Jesus? Isto só é possível se Jesus também compartilhar da mesma natureza do Pai. Jesus não e um agente do Pai. Não é um anjo criado. É estranho o NT dar tanta glória a Jesus se Ele fosse um ser criado. Jesus é o Filho de Deus e da mesma substância que o Pai. Isto é o que diz as Escrituras. Não há como dar glória a outra que o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Ap. 5.12: "proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor". As doxologias a Cristo no NT continuamente mostram que Ele tem a mesma glória que o Pai. Lembre-se de Isaías (sua glória Ele não divide com ninguém). Seria contraditório Deus no AT falar isso e no NT ele dar uma fraçãozinha de glória para Cristo. O NT diz que Cristo recebeu TODA glória. Para finalizar, veja Jo.5.23: "a fim de que todos honrem o Filho do modo por que honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou". Ele nos mandar honrar o Cristo da mesma forma que o Pai. Isto é igualdade, da mesma substância. Cristo tem a mesma glória que o Pai.